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Eu era bem pequenino e até onde minha lembrança vai, andava sobre um cais, levado pela mão por meu pai que quando fecho os olhos não vejo nitidamente. Talvez porque a minha atenção não estivesse voltada para ele e sim para aquelas barracas alinhadas à margem dos dois lados do cais, com todo aquele barulho de pessoas falando e de peixeiros gritando, tentando vender seu peixe.

Para o meu pai, apenas uma ida ao centro para comprar peixe. Para mim um passeio inesquecível, deslumbrante e inusitado.

O cais era longo e as barracas eram pequenas, uma ao lado da outra, suspensas por palafitas acima do nível da água. O freguês, de cima do cais, olhava para baixo para escolher o peixe exibido pelo vendedor. Os peixeiros limpavam os peixes escolhidos pelos fregueses numa bancada em frente e usavam a água do mar para lavá-los à medida que os limpavam. O pescador chegava da pescaria e encostava atrás das barracas para vender o peixe fresquinho que acabara de pescar ali pertinho, na nossa Baia.

Eu parecia estar num parque de diversões, e todo aquele sistema, por bem dizer primitivo e rústico, era simples e objetivo, além de proporcionar ao freguês uma sensação harmoniosa. Essa é uma das grandes lembranças marcadas em minha memória. Todo esse cenário que acabei de descrever, era o nosso mercado de peixe ao ar livre no centro de Niterói, no ano de 1957. Local ocupado hoje pelo corredor principal do terminal rodoviário.